...foi isso que minha filha disse enquanto estava na varanda
olhando o movimento da rua e eu regando as plantas. Parei e
fui olhar a mulher que do outro lado da rua, gesticulava em
nossa direção.
-Eu não conheço. Você conhece, mãe???
-Não...Mas estamos no setimo andar e têm mais trocentos
andares acima de nós!! Não somos os únicos moradores do
prédio. Deve estar acenando à outra pessoa. Esquece.
Voltei para as plantas e a Pri continuou ali.
- Mas é doida mesmo!!! Veja!! Se eu olhar para
o outro lado, ela pára. (e ela virava o rosto mas
ficava de rabo-de-olho na mulher) E quando eu volto a
olhar, ela começa de novo!!! Doida é pouco!!!!!
Também fiquei intrigada e ficamos ali testando a doida.
Discretamente, perguntei em gestos se era comigo
(discretamente, porque se não fosse, ela não perceberia :)
Pronto! Pra que fui fazer aquilo! A mulher ficou mais
alucinada! Parecia até aquele boneco do posto, de tanto
que se debatia! E começou a falar algo que eu não escutava!
- Tá pararã pararã parará em ima!!!!
E eu apontava para a orelha e gritava bem baixinho:
- Não tô te en-ten-den-doooooooo!
E a doida gritava mais ainda, mas era sufocada pelo
barulho dos carros:
- TÁ PARARÃ PARARÃ PARARÁ EM IMA!!!!!!!!!!
- O QUEEEEEEEEEE????????????????
E eu com meio corpo para fora da varanda e ela pulando,
rodando, abanando descompassadamente os braços e
gritando lá embaixo:
- OOOOGOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!
Meu marido e a outra filha ouvindo meus berros,
chegam na varanda e perguntam o que acontece.
- Aquela doida tá querendo dizer algo,
veja se você entende.
E ele vai até a grade e faz sinal com a cabeça
com quem diz: O que é? E a mulher grita para ele:
- TÁ PARARÃ PARARÃ PARARÁ EM IMA!!!!!!!!!!!!!!!
Pergunto a ele o que ela disse e ele:
- Ela disse que está pegando fogo o andar de cima. Peguem
seus documentos e vamos sair do prédio. E pela escada.
A calma em pessoa :) No mesmo momento já ouvimos as sirenes
na rua. As meninas obedeceram ao pai, eu fiquei olhando em
volta. Como pegar só os documentos? - pensei - Mas quando
vi os tres me esperando na porta, vi que era realmente o
suficiente. Descemos, saímos do prédio e atravessei a rua
pra falar com a "doida" :) Agradecer, coisa e tal...
Parecia que já nos conhecíamos, falamos a ela que achamos
ela super doida e ela confirmou que era mesmo doidona!!
Gesticulava muito para falar, boa de papo, alegre e
brincalhona. Nos contou que ela e o marido (que é bombeiro
e estava de folga) estavam passeando pelo calçadão quando
viram a fumaça saindo do apartamento, ele largou a mulher
ali, ligou para a corporação e entrou no prédio para
adiantar o expediente. O ape incendiado ficou parcialmente
destruído, mas diante do tamanho do prédio, poderia ter
sido pior. Mas graças a Deus, que colocou aquela "doida
maravilhosa" no lugar certo e na hora certa. E com o
marido certo!!!!!! É. Ter o homem certo é fundamental!! ;)